21 de ago. de 2013

Além daquela maldita placa...




Existe um lugar com significado particular para mim, entre General Câmara e Charqueadas, onde há uma placa, que marcou muito a minha trajetória randoneira até aqui. Para alguns amigos que me conhecem um pouco melhor, sabem que no ano passado não completei o BRM400 do Gelo (assim apelidado). O ponto de parada, obviamente, foi ao lado daquela maldita placa. Considerando que a grande maioria dos brevets da SAC passam naquele trecho, reencontrei-a muitas vezes... aquilo me serviu como uma lição à ser aprendida.

Treinos incansáveis, lesões e horas de dedicação me deram a possibilidade de encará-la novamente...

Considerando que anteriormente tive um bom desempenho no BRM300, estava determinado que os 420km desse Brevet fluiriam naturalmente. Teria que superar os desafios da estrada, mas não a distancia... lição que aprendi com randoneiros experientes que sempre tive a sorte de conhecer: o Audax é um fim. Porém os problemas que tive na estrada, colocaram à prova a possibilidade de eu concluir esse desafio.

Então, vamos aos fatos...

Saindo de casa rumo ao briefing passei por momentos emocionantes em família... esposa grávida e nossa filha de seis anos me abraçaram muito... sendo que a pequena chorou, já com saudades... quem ama sabe o quando isso toca.

Na chegada ao ponto de partida o encontro de amigos, sorrisos, fotos e o briefing. Estava tranquilo, até demais, para iniciar a jornada. A dali seguimos, um pelotão semelhante ao do ultimo Brevet... fortes na largada, deixando para estabilizar o ritmo depois de 1h.

Nos mantemos unidos em pelotão até Butiá (80km), onde furei o pneu a 500m do ponto programado de descanso, acabei trocando meu descanso por uma troca de câmara, com pôr-do-sol na beira de um posto de combustíveis... viria a furar mais 2 até Pantano Grande.

Chegando no PC, aquele copo de café com leite que me lembrava muito bem o que passei a um ano... quando cheguei mal, com frio e vendo gente casca grossa desistir. Mas enfim a parte melhor estava por vir... como gosto de escalar, ir a Encruzilhada é divertido.

Saímos novamente em grupo e logo que pude resolvi aumentar o ritmo para chegar logo, queria descansar e trocar a camisa... conforme tinha planejado, para descer "seco"e com o mínimo de frio até o PC3. Aguardei meus companheiros durante a janta e na chegada vi que não estavam bem... um com indigestão e outro com uma forte dor na perna. Não iria deixá-los mas também precisava manter meu foco, decidi então pelo meio termo. Manter o meu ritmo e fazer paradas mais frequentes para nos agruparmos sempre que preciso.

Mantendo o ritmo bom que toda descida proporciona, chegamos bem ao Raabelândia, PC3... onde me alimentei bem e tive uma surpresa ruim, um farol furtado por algum ladrãozinho safado. Aquilo meu deixou chateado... estava começando a acumular problemas para a prova. Pelo menos eu ainda tinha 1 farol, o que não me impossibilitou de seguir adiante.

Parada no Posto Dragão para um café e conversa com amigos e a brigada militar que fazia ronda no local, nos dando segurança.

Na entrada de Santa Cruz, um dos amigos acerta um buraco e precisamos parar... entrando no trecho urbano orientados pelo GPS, tivemos problemas, acumulando muito stress e perda de tempo... o que me deixou bem desmotivado. Porém existem sentimentos que eu exercito mais que o ciclismo: determinação e resiliência. Esses dois sentimentos unidos àqueles 1% de teimosia que aprendi com um grande amigo, foram determinantes para seguir em frente. Teria mais diversão... a subida de Santa Cruz.

Dali pra frente pensava em somente 3 coisas... uma promessa, uma placa e minha filha.

Promessa, é divida... tinha que pagar. Precisava alcançar um amigo para tomar um cappuccino no Postaço (Charqueadas), e selar de vez uma luta que começou a um ano. Porém antes tinha ela, aquela maldita placa. Almocei em General Câmara e parti pro meu verdadeiro desafio: passar daquele marco. Os quilômetros foram diminuindo e o encontro foi inevitável... como se fosse um filme, aquela reta se espichou e o sangue me subiu e eu sprintei em direção à ela. Tinha que ser assim, e foi. Agora era só seguir em frente, livre para um café com os amigos.

Encontro no Postaço selou uma parceria de muito tempo, deixou saudades.. e vai marcar minha memória. Liguei para minha amada esposa e avisei que chegaria em breve, para matar a saudade que me corria por dentro naquele momento. Tinha uma meta, agora de tempo... serviu como estimulo não me atrasar para um encontro com a minha família. Nem o forte vento contra, nem as dores no corpo, o esgotamento foram capazes de segurar a minha alegria em ouvir a minha filha gritando ao me ver no DC...

Nos vemos por aí meus amigos... de preferência pedalando. O sorriso e um bom papo eu garanto. — com Daniela Fonseca, Alexandre Pedroso, Claudir Schwingel, Ninki da Sac e Helton Moraes.

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3 Responses to “Além daquela maldita placa...”

valter malta disse...
30 de agosto de 2013 às 12:41

muito show teu relato, concordo quase tudo menos com as palavras do Lance....eu acabei desistindo por dores nas costas no Km 300, e o que me faz continuar pedalando é exatamente o fato de ter desistido, e não da para usar uma frase de um dos maiores farsantes do esporte como exemplo. Abração


Anonymous disse...
2 de setembro de 2013 às 22:36

400Km nao é pra qualquer um nao...Imagino o numero de pessoas que desistem,tbm nao imagino o numero de pessoas que tentao de novo,mesmo com o fantasma da desistencia anterior(no caso aqui vc fez referencia a placa,lugar que abandonou a prova(sei que nao é uma competiçao,prova é um nome q estou usando.
Superar isto deve seu uma vitoria interior,so quem passa por isto entende.
Eu,acho q nen o de 100km iria completar na primeira vez...


Alex disse...
20 de setembro de 2013 às 19:34

Show de relato!


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