1 de out. de 2010

GIRO do CHIMARRÃO - Relato do Rogenio

Tivemos exelentes referências do Rogenio, dadas pelo Roberto do Audax Paraná, que o chama carinhosamente de "meu pupilo". Todas as informações, que me foram passadas se confirmaram. Amigo, solidário, prestativo, um audaxioso com todas as letras, este é o Rogenio, leiam a seguir o relato dele do nosso mil km.

Rogenio, no Pc02, logo depois da serrinha. Imagem Romi.

E lá vamos nós, César, Juninho e eu novamente para mais um desafio de bike. Agora seriam 1.000 km pelas estradas do Rio Grande do Sul. Audax 2010 – Volta do Chimarrão. Único desafio com essa quilometragem na América do Sul! Saída e Chegada em Porto Alegre. Largada dia 16/09 às 23:00hs com chegada limite às 02:00hs do dia 20/09 (de Quinta a Segunda).

Saímos de Ponta Grossa, no dia 15/09 logo cedo ( 07hs), de carro vamos até Curitiba, de onde vamos de avião para Porto Alegre.

Empolgados, risos, brincadeiras, no meu caso para disfarçar o nervosismo e a expectativa da prova, pois seria a mais longa quilometragem que eu já havia pedalado!

Chegamos DC Navegantes (local da largada) com 2 horas de antecedência, e olha que não fomos os primeiros!

Aos poucos o pessoal vai chegando, a maioria da região mesmo, e alguns “malucos” de fora tal como o pessoal vindo de Brasília. Uns poucos conhecidos de outros desafios, assim como o amigo Gilson de Santa Catarina.

Chega o pessoal da organização, liderados pela Ninki, responsável direta pela nossa maluquice! Pessoal “tri-legal” como diriam os gaúchos.

Briefing, jantar, preparação para largada, Abraços a três, algumas palavras emocionadas agradecendo antecipadamente a presença dos dois amigos e largada! A Prova começa. Batimentos cardíacos acelerados.

O trajeto pela BR 290 é tranqüilo, acostamento bom, pedalamos praticamente num só pelotão.

Com 67km, pneu furado, troca rápida e apressada para não ficar muito atrás do grupo, rapidamente me coloco novamente com o pelotão.

Ponto de Apoio 01 – Rabelandia , 120km de prova, tudo bem, parada para um lanche rápido, e sigo em frente com destino ao primeiro Posto de Controle – PC – que estaria no km 167 de prova. Chego ao PC por volta das 06:20, uma hora além da previsão inicial, atraso justificado pelo furo de pneu e a parada no PA.

Nessa altura da prova estou pedalando sozinho, o pelotão inicial se desfaz face o ritmo diferente de cada participante, assim como a estratégia de parada de cada um.

A primeira noite foi tranqüila, sono em dia, sem cansaço, tudo ainda começando!

Chego a “serrinha”, são seis quilômetros de subida forte, o ritmo cai violentamente, mesmo tendo treinado em subidas, a “serrinha” se tornou um martírio. Após a metade da subida, tenho que “ziguezaguear” na pista, não consigo pedalar em linha reta. Uso a relação mais reduzida que tenho, 53 x 25, mas isso não facilita a subida. Demorei quase uma hora para conseguir vencer a danada!

Sabia que tinha um PC logo após a subida, mas cadê ele? Preciso de descanso, mas rodo, rodo e nada do PC. A serrinha terminou mas as subidas não, cada inclinação mínima que fosse me parecia “enormes subidas”, o cansaço era imenso.

Enfim o PC 02. 282 km percorridos, e neles a pior parte estava vencida. Parada para descanso, sinto que forcei demais na serra, a recuperação demandava tempo, o que não temos nesse tipo de prova.

Alimentação em dia, bike também, saímos para a estrada, busco forças onde não tenho, tento pedalar forte para “recuperar” o tempo perdido neste ultimo trajeto, no entanto a altimetria dos próximos 50 km também não ajuda, algumas descidas ajudavam a descansar, mas na seqüência de cada uma delas existiam subidas longas e desgastantes.

Chegamos ao km 330 da prova, PA do Hotel Ceolin, Conversamos, César, Juninho e eu, decidindo por uma primeira parada para dormirmos.

A informação era de que dali em diante o trajeto era praticamente plano, então um descanso de aproximadamente 4 horas seria o suficiente para recuperação do desgaste físico e mental.

Nem bem fecho os olhos, o despertador do celular toca informando que já se passaram às 04 horas de descanso, e lá vamos nós os três “guerreiros” dar continuidade ao desafio.

Somos informados de que alguns outros “guerreiros” tinham seguido em frente, que dormiriam no próximo PC no km 460.

O dia está ensolarado, a temperatura amena, mas o vento contrário torna a pedalada sofrida, apesar de ser um trecho plano.

Me sinto bem mantenho um ritmo de pedal razoável. Ao anoitecer a temperatura cai, o frio é maior do que na noite anterior, ou seria o cansaço que fazia ele parecer pior.

Chegamos ao PC 03 por volta das 00:40, são 460 km já percorridos, praticamente 50% da prova está completa.

O PC é num hotel, F4, ao parar a bike o pé esquerdo escorrega no piso liso, e sinto uma leve dor no joelho direito, pois este pé ainda estava preso no pedal, acredito não ter sofrido nada mais grave.

Segundo informações o pior trecho está vencido, dali pra frente era só moleza, quem chegasse até ali, certamente iria até o final.

A partir deste ponto optamos em descansar por volta de 1 hora em cada PC, eu repousaria no carro de apoio. Tudo está bem,

Voltamos para estrada, após uns 30 km de pedal o joelho direito passa a incomodar terrivelmente, não consigo mais forçar, cada pedalada passou a ser um sofrimento.

Com 509 km paro no acostamento, pois a dor se tornou insuportável, o frio da madrugada é intenso piorando a sensação de dor.

Respiro fundo, subo novamente na bike e volto para a prova, a dor aumentou, a parada deu “aquela esfriada” e voltar ao pedal foi extremamente difícil. Mais a frente encontro o carro de apoio, os amigos perguntam o que aconteceu pois demorei mais do que o normal naquele trajeto, informo sobre o problema do joelho e que deveria diminuir mais ainda o ritmo para “economizar” o joelho.

A dor passou a ser constante, meu ritmo passa a ser o de passeio, percebo que o joelho está levemente inchado.

Por volta de 100km aproximadamente, passo a pedalar apenas com a perna esquerda, dou duas ou três pedaladas e deixo a bike rodar até quase parar, aí mais duas ou três pedaladas novamente, e assim vou seguindo.

Chego ao PC 05 – km 658 da prova, com uma média de pedal de 10,29 km p/h, praticamente a mesma de se andar a pé!

Começo a me preocupar com a possibilidade de não chegar em tempo nos próximos PCs e de mesmo não conseguir completar a prova no tempo limite de 75hs.

Entre o PC 05 e o PC 06 são apenas 94 km, em condições normais poderia ter percorrido esta distância em torno de 3 a 3,5 horas. Demoro 07horas !!

No PC 06 já temos aproximadamente 750 km quilometros percorridos, chego com 52hs de prova – tempo que eu havia estimado para terminar os 1.000km.

Agora o foco é apenas conseguir terminar a prova dentro do horário limite.

Os 50 km que separam o PC 06 do PC 07, são os mais terríveis, como estava “economizando” a perna direita, pedalando praticamente apenas com a esquerda, o joelho esquerdo passa a incomodar, sentido o sobre esforço.

O trajeto é praticamente plano, mas levo intermináveis 04horas para percorrer os 50km!!

Enfim PC 07, 802 km percorridos em aproximadamente 56hs, meu corpo se nega a continuar. As dores agora não se restringem aos joelhos, o corpo todo está dolorido, pois não estou pedalando numa posição confortável, as costas doem, o pescoço está “duro”, as mãos amortecidas.

Chego neste PC com a sensação de que a prova acaba ali, o “moral” está em baixa. No entanto os amigos do apoio vem me cumprimentar dizendo que faltam apenas 200 km, que agora estava no fim, que sabiam que eu poderia pedalar o restante do trajeto sem maiores problemas.

Dou um sorriso amarelo, peço 40 minutos de descanso, e vou para o carro “cochilar” mais uma vez.

Esses minutos voam uma vez mais, sou acordado pelo césar, vamos lá campeão diz o amigo, checo minhas condições, estou “bem” pelas condições atuais, sigo em frente, lentamente, e assim vamos, passamos pelo PC 08, por volta das 13:30 da tarde, foram 102 km entre o PC7 e o PC8, num tempo de 06:30hs, praticamente estava me arrastando.

Do PC 08 até a chegada são mais 100 km aproximadamente, outras intermináveis 08 horas de pedal, as dores só aumentam, mas meu psicológico me ajuda a continuar, procuro não mais prestar atenção naquilo que sinto fisicamente, focalizo a chegada, os dois amigos extremamente cansados mas me dando a maior força, meus filhos, os amigos do Paraná, enfim busco visualizar mentalmente apenas pontos positivos, e assim pedalada a pedalada, metro a metro sigo em direção ao DC Navegantes – A CHEGADA.

E lá está ela, entro no shopping, e já ouço alguém falar: É o Paraná, o Rogenio está concluindo, respiro aliviado, prova concluída, desafio completado.

Como num passe de mágica tudo muda, o bom humor volta, ensaio algumas pidas, damos algumas risadas, recebo o certificado e a medalha das mãos do marido da Ninki.

Agradeço, e vamos os três “guerreiros” para o hotel em busca de um bom banho e uma cama macia para descansar após 70h51min de pedal, de risos, sofrimentos e muita luta.

Somos vencedores de nós mesmos, campeões de garra, os primeiros paranaenses a concluir os 1.000 km, somos um só!

Tudo acabou, mas nada será esquecido, desde os preparativos, a luta em conseguir levantar fundos para fazer tal odisséia, os amigos que colaboraram, que deram força psicológica, aqueles que ficaram rezando para que nada de ruim acontecesse, o pessoal da organização (show de organização), os novos amigos que fizemos.

Trouxemos na bagagem não só a experiência de pedalar 1.000km, mas principalmente o amadurecimento psicológico, a certeza de que podemos seguir sempre em frente, mesmo sob as condições mais adversas, que temos dentro de nós a força necessária para jamais desistir.

Agora só resta esperar a nova série do Audax para encontrar o velhos amigos de bike, e com certeza fazer novos!


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1 Responses to “GIRO do CHIMARRÃO - Relato do Rogenio”

Giselle disse...
1 de outubro de 2010 às 12:24

Me fez chorar! Tenho muito orgulho de você amigo campeão!!!


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